sexta-feira, 14 de maio de 2010


Entras-te no meu sonho sem pedir permissão e dirigiste-me palavras glaciais e sem qualquer tipo de sentimento, foi horrível e infernal. Não estava bem acordada, e na minha ânsia de continuar a dormir, coloquei as minhas mãos em cima dos ouvidos e pensei que estava a gritar para os meus sonhos, "Pára de dizer essas coisas, estas a ser cruel.". A única coisa que me lembro a seguir é de acordar com a profunda e bela luz do sol e agradecer por tudo ter sido meramente um sonho, o meu peito ficou dormente e fraco. Senti os joelhos e a espinha a ficarem moles e a vacilarem, acontecia-me sempre quando antecipava algo de bom ou de mau, sempre que me permitia aproximar-me dos extremos da emoção. Aprendera desse modo a calar os meus sentimentos, a forçar-me a não me interessar, a não fazer nada e a deixar que as coisas sucedessem, acontece-se o que acontece-se.
Todas as pessoas tentavam moldar-me a mente, sovando-a como se não me pertencesse, mas quanto mais tentavam mais eu me tornava forte.

Eu era insaciável, todas as pessoas me diziam isso, que eu não conseguia encher o coração com o prazer suficiente, o estômago com o conteúdo suficiente, o corpo com o sono suficiente, eu era como um saco que estava rasgado, e desse modo não podia ser satisfeito e transbordar porque iria sempre estar a perder uma parte da quantidade, eu era como o saco, jamais poderia ser preenchida. Nunca conheceria toda a extensão do amor, da beleza ou da felicidade.
Diziam sempre com uma maldição enorme e isso tocava-me profundamente.
Devido a essas criticas, eu agia como se fosse ainda mais deficiente em sentimentos.
O meu raciocínio era este: Como é que eu podia ser ferida se não me ralasse?
Com o tempo, senti que me estava a tornar cada vez mais forte. As minhas pernas já não vacilavam e aprendi a resguardar-me da dor. Escondi tão bem os meus sentimentos mais profundos que me esqueci onde os colocara.

Estava no jardim, prestes a ver a lua cheia erguer-se. Toda a minha família estava a espera do mesmo, levavam lanternas de papel com velas que gotejavam infinitamente, pouco a pouco fomos-nos aproximando cada vez mais do lago.
A lua apareceu e brilhou, um melão dourado e não apenas um disco plano, como sempre parecera anteriormente. Ouvi as pessoas a gemer de felicidade, vi as bocas a abrirem-se, os cantos dos olhos a pingarem lágrimas.
Eu, tinha a boca fechada, os olhos secos, conseguia ver a lua tão claramente como qualquer um deles e até conseguia ver a beleza especial. Mas porque que eu não chorava do mesmo modo?Porque é que a felicidade deles era dez vezes maior do que aquela que eu sentia? Faltava-me a ligação adequada entre os sentimentos e o coração?

Foi nesse momento que percebi que era um habito meu. Conter os sentimentos. Evitar que os joelhos vacilassem. E ao perceber isso, estava pronta para sentir o que quer que quisesse, com toda a plenitude que me apetecesse. Olhei para a luz e dispôs-me a sentir todas as emoções.
Esperei que a alegria e o maravilhamento me atingissem. Estava determinada, estava preparada, estava a antecipar, a esperar, a desejar... mas não aconteceu nada.
As minhas pernas permaneceram fortes e direitas.
Naquela noite em que observava a lua percebi que iria ser sempre deficiente em termos de grandes emoções. E isso porque nunca te tive aqui, junto a mim, enquanto crescera. Eu precisava e preciso de ti, porque tu és o tipo de pessoa que me enche o coração em primeiro lugar.

Era suposto ensinares-me a natureza da felicidade: qual a quantidade certa, qual a excessiva, e qual o tipo que nos faz querer maus daquilo que nos é prejudicial.És a minha melhor amiga, a minha alma, devias ajudar-me a perceber que existem diversos tipos de beleza, e que nestes se encontram as fontes de prazer, algumas das quais são populares e vulgares, e assim de pouco valor, outras são difíceis e raras e vale a pena persegui-las.



Sabes que sempre te amarei.
Beijo meu amor.

Amy Tang, toda a minha inspiração

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